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TELECENTRO DE INCLUSÃO DIGITAL PETROBRÁS/RITS DA ATES DE PELOTAS: INCLUSÃO DIGITAL COMO FORMA DE INCLUSÃO SOCIAL

Pablo Fabião Lisboa[1]

RESUMO

A internet se configura como uma nova fase na história da humanidade e se assemelha muito ao nascimento da escrita. Dentro desta perspectiva, quem não puder acessar a rede, ou não souber utilizar as ferramentas da comunicação via internet, será um excluído digital, acentuando ainda mais as diferenças sociais já existentes. Para tanto, se fazem necessárias políticas e ações de inclusão digital, a exemplo do projeto em questão que foi utilizado como objeto de pesquisa, com vistas à promoção da inclusão social. O presente trabalho apresenta o resultado da pesquisa aplicada aos usuários e usuárias do Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, a respeito de a inclusão digital ser inclusão social. O Artigo está dividido em: introdução; metodologia; o que é um tele-centro de inclusão digital; a opinião dos usuários e usuárias; software livre e a formação técnica; alguns dados com relação à internet; pessimistas e otimistas da Cibercultura; e conclusão. A metodologia aplicada foi de questionário fechado e as respostas estão apresentadas em forma de gráficos no corpo do artigo. Através do cruzamento entre as respostas dos questionários aplicados e as teorias da cibercultura, da inclusão digital e da inclusão social, chegamos a alguns resultados que estão apresentados na conclusão.

Palavras-chave: Cibercultura / Inclusão / Tele-centro



[1] Formando do curso de Licenciatura em Artes Visuais

INTRODUÇÃO

O governo Federal vem desde 2005 executando em todo o país o projeto Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS, que visa, através de Tele-centro de inclusão digital, oferecer formação técnica básica em computação para o uso da internet e das ferramentas do computador, e disponibilizar computadores em local apropriado com capacidade de conexão razoável para o aceso a internet. Aqui em Pelotas está situado um destes tele-centros, denominado: Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, que é o objeto de pesquisa que deu suporte para o presente Artigo.

A partir da pesquisa realizada, através de questionário, com os usuários e usuárias do Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, durante janeiro de 2007, e da pesquisa teórica feita durante o percurso da disciplina de Projeto em Artes II, do curso de Licenciatura em Artes Visuais, da Universidade Federal de Pelotas, pude observar alguns elementos numéricos e teóricos que direcionaram o trabalho para que eu pudesse fazer algumas conclusões a respeito da pergunta inicial, mote deste trabalho: Inclusão digital é inclusão social?

Para que pudéssemos entender como funciona o processo de inclusão digital, tivemos que abordar em tópicos alguns temas importantes que são pré-requisitos básicos para o entendimento do objeto da nossa pesquisa. Começamos a partir da exposição da metodologia e da apresentação da entidade que executa o projeto, seguido do tópico que apresenta a concepção de Tele-centro, expressada majoritariamente por Sergio Amadeu, presidente do ITI - Instituto de Tecnologia da Informação. Depois apresentamos os primeiros resultados da pesquisa que traça o perfil dos usuários e usuárias do Tele-centro. Tabulamos as respostas dos questionários aplicados aos usuários e usuárias do Tele-centro, que participaram da entrevista, entendendo em números as características dos freqüentadores do Tele-centro e algumas opiniões expressadas através dos gráficos presentes neste artigo. Entramos no debate da importância do software livre e da formação técnica como etapas fundamentais de um projeto autônomo e coletivo. Trouxemos alguns números a respeito da internet no Brasil para ter uma visão da real situação dos brasileiros e brasileiras, através dos números do IBGE. E para que melhor compreendêssemos as questões teóricas a respeito da importância da inclusão digital, apresentamos um tópico sobre o assunto que se convencionou chamar de Cibercultura, apresentando as duas correntes de opiniões mais importantes no ramo, que são os pessimistas e os otimistas, ou os fáusticos e os prometéicos. Por fim apresentamos a conclusão do artigo que identifica se inclusão digital é inclusão social no Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, através do cruzamento entre as respostas dos entrevistados e as teorias apresentadas.

No Brasil existem muitas pessoas excluídas da internet sem ter condições de acessar a rede e sem ter um computador para manejar, talvez seja por isso que atualmente o tema da inclusão digital tenha sido tão pesquisado e debatido no Brasil a partir das experiências nacionais e internacionais. Na era da cibernética onde o uso do computador se torna imprescindível para a inclusão das pessoas na sociedade, os Tele-centros cumprem um papel fundamental na equidade social, segurando o direito das pessoas de se comunicarem via internet e de utilizarem o computador para outros fins, sejam eles de entretenimento, de trabalho ou de participação democrática no estimulo a cidadania.

Dentro deste cenário atual, existem opiniões adversas quanto ao processo da inclusão digital e ao caráter positivo desta inclusão promovida seja pela iniciativa privada, seja pelo Estado. A intensificação do fluxo de conexões na rede mundial de computadores gera não um mundo novo, mas a “potencialização” do mundo atual. Se determinada pessoa não tem computador, ou não pode acessar a internet, dizemos que ela faz parte da exclusão digital, logo esta pessoa fica “despotencializada” para praticar o exercício da cidadania, a convivência social, a formação profissional, o aceso a informação e até mesmo o ócio. A não participação da população ou de determinado grupo social na rede, intensifica o IDH - Índice de Desenvolvimento Humano, negativamente, assim, para efetuar inclusão social na era digital e no Brasil, se faz necessário uma forte política de inclusão digital.

METODOLOGIA


Os dados aqui apresentados foram obtidos no Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, através da realização de uma pesquisa interativa com questionário contendo perguntas fechadas, com análise qualitativa, onde foram aplicados dois questionários diferentes, que se justificam pela estrutura do Tele-centro, que comporta dois espaços distintos.

Um tipo de questionário foi aplicado aos usuários e usuárias do espaço de aceso a internet do Tele-centro, que tem quatro (4) computadores para conexão com a internet. Neste espaço foram entrevistados na sua totalidade, os usuários que estavam acessando a internet, nos dois turnos disponíveis, ou seja, oito (8) usuários nos turnos da manhã e da tarde. O outro tipo de questionário foi aplicado aos alunos e alunas do curso de formação técnica do Tele-centro, que tem vinte (20) computadores para desenvolvimento do curso de inclusão digital. Neste espaço foram entrevistados na sua totalidade, os alunos que estavam fazendo o curso, ou seja, dezesseis (16) alunos, nos turnos da manhã e da noite.

O critério para as pessoas participarem do estudo foi estarem dentro do projeto Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, no dia 19 de janeiro de 2007, para os alunos e alunas do curso, e dia 22 de janeiro de 2007, para os usuários e usuárias do local com aceso a internet.

A Pesquisa foi feita no Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, que se localiza a Rua General Osório, Nº. 1090, entre as ruas, Doutor Amarante e Avenida Bento Gonçalves, na cidade de Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul. O objetivo central da pesquisa era saber se o Tele-centro em voga faz inclusão social através do processo de inclusão digital.

Foram feitas perguntas que tinham por objetivo saber dos entrevistados e entrevistadas: o sexo e a escolaridade, a fim de traçar o perfil dos usuários e usuárias; depois as perguntas tinham a característica de saber a opinião dos entrevistados e entrevistas quanto, à internet ser boa para, fazer amigos, namorar, estudar, ou saber das coisas; e a preferência quanto às opções do sistema operacional baseado em software livre e o sistema operacional da empresa Microsoft (Windows). Por fim foi perguntado aos entrevistados e entrevistadas, quanto à opinião, se inclusão digital é inclusão social?

O QUE É A ATES


A ATES – Associação do Trabalho e Economia Solidária, de acordo com a apresentação do seu blog na internet:

É uma entidade civil, sem fins lucrativos que tem como missão incentivar, apoiar e acompanhar inúmeras formas de organização coletiva de homens e mulheres na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, seja na Economia Solidária com a geração de trabalho e renda de forma autogestionária, sejam na disseminação do Software Livre e das novas tecnologias, no combate as discriminações de etnia e gênero, e construindo espaços protagonistas para a juventude. LIMA (2006).

A entidade executa hoje, o projeto Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, com financiamento do Governo Federal. A estrutura do Tele Centro conta com vinte (20) computadores que são utilizados para os cursos de formação técnica de inclusão digital e quatro (4) computadores para o acesso a internet.

O Tele-centro é uma iniciativa da Petrobrás, em parceria com a RITS (Rede de Informação para o Terceiro Setor) e com o ITI (Instituto Nacional de Tecnologia da Informação), foi implementado no mês de maio de 2005, juntamente com mais de 50 Tele-centros distribuídos por 20 Estados em todo o país.

A ATES, além de preocupar-se em fomentar diferentes formas de relação de trabalho e produção, a ATES entende como fundamental para construção da emancipação social, criar condições de acesso às tecnologias de informação e comunicação por amplas camadas da sociedade excluídas do uso dessas ferramentas. Por isso atua na área da inclusão digital. ATES (2007).

De acordo com a publicação do blog da ATES (2007), descrita acima, podemos entender quais os fins da entidade e qual o grau de entendimento que se tem a respeito da ação de comportar em sua sede um projeto de inclusão digital. Assim como, para entender as ações e atitudes precisamos entender um pouco das pessoas, entendendo um pouco da entidade que mantêm o projeto, fica mais fácil entendermos os seus propósitos e finalidades.

O QUE É UM TELE-CENTRO DE INCLUSÃO DIGITAL

De acordo com o Presidente do ITI – Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, Sergio Amadeu:

Tele-centros são espaços com computadores conectados à Internet, com cursos de informática. Possuem Conselho Gestor, formado por membros da comunidade. É um projeto de uso intensivo da tecnologia da informação para ampliar a cidadania e combater a pobreza, visando garantir a privacidade e segurança digital do cidadão, sua inserção na sociedade da informação e o fortalecimento do desenvolvimento local. Construir a cidadania digital e ativa. AMADEU (2005).

A partir deste conceito de Tele-centro de inclusão digital, podemos distinguir outras experiências ditas inclusivas, mas que muitas vezes deixam de cumprir com alguns requisitos básicos. Falo aqui de falta de formação técnica para a manipulação mais adequada das ferramentas que chamamos de TIC’s – Tecnologia da Informação e Comunicação YOUNG (2006) e da ausência de conselho gestor composto pela comunidade para tomar as decisões mais importantes de direcionamento do Tele-centro, porque não basta que tenhamos apenas computadores, temos que ter a presença de capacidade razoável de conexão e cursos de formação técnica com os ideais do software livre, da autogestão e da participação cidadã.

Para complementar o conceito de Tele-centro de inclusão digital, destacamos uma visão mais ampla sobre o tema, que estimula a universalização do acesso ao computador conectado à internet, bem como, o domínio da linguagem básica para manuseá-lo com autonomia AMADEU (2005).

A luta pela inclusão digital pode ser uma luta pela globalização contra-hegemônica se dela resultar a apropriação pelas comunidades e pelos grupos sociais socialmente excluídos da tecnologia da informação. A inclusão digital não pode ser apartada da inclusão autônoma dos grupos sociais pasteurizados, ou seja, da defesa de processos que assegurem a construção de suas identidades no ciberespaço, da ampliação do multiculturalismo e da diversidade a partir da criação de conteúdos próprios na internet, e, pelo ato de cada vez mais assumir as novas tecnologias da informação e comunicação para ampliar sua cidadania. AMADEU (2005).

O PERFIL DOS USUÁRIOS E USUÁRIAS


Antes de apresentarmos as questões especificas da discussão que nos propomos neste artigo, vamos antes apresentar em quatro gráficos, o perfil dos usuários e usuárias (gráfico 1 - internet), bem como dos alunos e alunas (gráfico 2 - cursos), do Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas.

A primeira pergunta, dizia respeito ao sexo dos entrevistados. Vejamos os resultados das perguntas (gráfico 1 - internet e gráfico 2 - curso):

gráfico 1

gráfico 2

Uma observação relevante a fazer neste primeiro levantamento de dados, através dos gráficos um (1) e dois (2) é que as mulheres estão mais presentes no curso de formação técnica do que os homens, enquanto que os homens estão mais presentes no espaço de aceso a internet que as mulheres. Talvez esta constatação possa ter reflexos dentro e fora do assunto que estamos a tratar. Enquanto as mulheres procuram maior formação e titulação, os homens buscam a sociabilidade e privilegiam a comunicação. Mas não é só nesta pesquisa que esta variante aparece. A mulher esta cada vez mais presente, por exemplo, nas listas de aprovação de universidades, ou seja, está a buscar formação profissional para balizar a desigualdade encontrada nos espaços de trabalho e de poder da sociedade.

Sabendo que o nosso foco não é aprofundar as questões de sexo, e ou, de gênero neste artigo, vamos seguir adiante, mas sabendo que este dado pode ser importante neste e em outros trabalhos.

Depois de identificarmos a presença ou ausência de homens e mulheres no espaço estudado aqui, passamos a abordar o fator escolaridade, em busca de identificar a instrução dos usuários e usuárias (gráfico 3 - internet), bem como, as dos alunos e alunas (gráfico 4 - cursos) do Tele-centro:

gráfico 3

gráfico 4

Aqui podemos perceber que existe baixo transito de pessoas que já tenham chegado, ou concluído o ensino superior, deixando que as pessoas que estão no ensino fundamental e médio possam participar com mais intensidade. Outra questão a avaliar nas respostas (gráfico 3 - internet e gráfico 4 – curso), é quanto à procura mais intensa do curso técnico, por aquelas pessoas que estão no ensino fundamental, enquanto a procura para utilização da internet, acontece com mais assiduidade por pessoas que já estão no ensino médio, do que aquelas que ainda estão no ensino fundamental.

A OPINIÃO DOS USUÁRIOS E USUÁRIAS

Se nos primeiros quatro gráficos, se buscou saber o perfil dos freqüentadores e freqüentadoras do Tele-centro, nos gráficos que serão apresentados a seguir, vamos saber da opinião dos entrevistados e entrevistadas.

Na pergunta feita aos alunos e alunas do curso técnico de inclusão digital, que buscava saber por parte dos entrevistados e entrevistadas se a internet é boa para fazer amigos, namorar, estudar, ou saber das coisas, duas respostas tiveram a preferência. A maioria respondeu que a internet é boa para estudar e a minoria respondeu que a internet é boa para saber das coisas, as outras opções não tiveram preferência. Vejamos as respostas dos alunos e alunas (gráfico 5 – internet) a baixo:

gráfico 5

Já no espaço de aceso à internet que fazia a mesma pergunta, indagando se a internet é boa para fazer amigos, namorar, estudar, pesquisar, acessar notícias ou consultar e-mail, a maioria preferiu a opção pesquisar. Vejamos as respostas dos usuários e usuárias (gráfico 6 – internet) na próxima página:

gráfico 6

Na pergunta a respeito da preferência por parte dos alunos e alunas do curso de inclusão digital, entre o software livre e o Windows como sistema operacional, os resultados foram bem parecidos, mas com a maioria optando pelo software proprietário, ou seja, o Windows. Vejamos nas respostas dos alunos e alunas (gráfico 7 – curso) abaixo:

De forma inversa, o software livre foi o preferido dos usuários e usuárias que acessam a internet, como podemos perceber nas respostas dos usuários e usuárias do Tele-centro (gráfico 8 – internet) na próxima página:

Os gráficos que vimos até agora, fizeram parte das primeiras perguntas do questionário. Depois de alguns minutos na presença dos entrevistados a pergunta central do trabalho poderia ser respondida, como mais tranqüilidade. Assim, a pergunta que dizia respeito à opinião por parte dos entrevistados e entrevistadas sobre, se inclusão digital é inclusão social, foi feita aos alunos e alunas (gráfico 9 – curso) que podem ser vistas abaixo:

Com a maioria dos entrevistadas e entrevistados do curso técnico, gráfico acima, respondendo que inclusão digital é inclusão social, obteve-se a resposta mais valiosa para o presente trabalho, porém ainda faltava identificar se os usuários e usuárias do Tele-centro tinham a mesma opinião para que tivéssemos na conclusão uma posição mais precisa e pouco heterogênea.

O gráfico abaixo apresenta a opinião com diferença mais elástica de todo o questionário que deu base a este artigo. Vejamos no último gráfico as respostas dos usuários e usuárias do Tele-centro (gráfico 10 – internet) na próxima página:

gráfico 10

A grande maioria dos entrevistados e entrevistadas responderam que inclusão digital é inclusão social. Veremos na conclusão uma análise deste fato.

O SOFTWARE LIVRE E A FORMAÇÃO TÉCNICA

O software livre foi criado por Richard STALLMAM, e tem como princípio o desenvolvimento colaborativo pelo livre aceso ao código fonte que assegura aos seus usuários quatro liberdades fundamentais: 1. Liberdade de uso para qualquer finalidade; 2. Liberdade de estudar o software completamente; 3. Liberdade de alterar e melhorar o software; 4. Liberdade de redistribuir as alterações feitas. AMADEU (2006).

A utilização do software livre permite que o computador e a rede fiquem mais seguros e o software seja adquirido gratuitamente. A despreocupação com a infecção de vírus, a estabilidade e a gratuidade do software, são as questões que considero como sendo de Primeira Etapa, que são analisadas pelas pessoas ao se converterem ao software livre, que é um primeiro momento. Depois vem a importância de liberdade de estudar o software, modifica-lo e redistribuí-lo. Estas outras questões podem ser consideradas de Segunda Etapa. Só quem já tem uma boa experiência na manipulação das ferramentas do computador é que terá a condição necessária a estas questões num segundo momento. Não que as pessoas que nem mesmo saibam manipular um computador não virão a ter a oportunidade de estudar, modificar e redistribuir o software, mas é uma questão de etapas.

Pelas vantagens do software livre, muitos governos estaduais e prefeituras, empresas e universidades optaram já há bastante tempo pelo software livre.

Exemplo concreto da vantagem financeira, devido ao uso do software livre, pode ser observado no estado do Paraná, governado por Roberto Requião, que em seu discurso de posse enfatizou o uso do software livre: “Desde que o software livre foi implantado, em maio de 2003, até agora, dia 1º de janeiro de 2007, já economizamos 147 milhões de reais, dinheiro que desperdiçaríamos com as empresas que monopolizam o setor”. REQUIÃO (2007)

Se pelo lado financeiro é bom, pelo lado educacional é melhor ainda. Estando aberto, o código-fonte dos programas livres, milhões de pessoas de todo o mundo podem alterar e melhorar o software, ao contrário do software proprietário, que não da ao usuário a possibilidade de aprender e estudar. Com esta compreensão a adaptação pode ser rápida e indolor.

No Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, os softwares utilizado nas máquinas são de propriedade intelectual compartilhada e generosa LESSIG (2005), ou seja, rodam através do uso de software livre e utilizam como ferramentas de aceso a internet, produção de textos, gráficos e manipulação de imagens programas que são software livre.

A medida de utilizar software livre e não proprietário gera um choque cultural dentro das relações próprias da Cibercultura, pois a Microsoft – monopólios do mercado mundial de softwares detêm a grande maioria do mercado tornando os seus programas culturalmente mais fáceis de utilizar, enquanto o software livre tem sua chancela livre, ou seja, podem ser modificados e reutilizados sem pagamento dos mesmos, mas são pouco utilizados pela pouca vontade política das instituições como, universidades, governos, repartições públicas, de implementar está dinâmica na utilização dos softwares. Como sabemos aquilo que eu não uso se torna mais difícil pela falta de conhecimento.

Através da citação de Chico Homem de Melo, podemos compreender como a internet e o computador, podem e devem ser conectados a outras atividades como forma de transversalizar o conhecimento. “Anote a receita: evite percursos que só passem por ruas de mão única. O grande antídoto contra o perigo do absolutismo da linguagem digital é a prática permanente do maior leque possível de outras linguagens.” MELO (2003). Realmente o projeto Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, está conectado com esta percepção, de que além do Tele-centro, se fazem necessárias outras formas de linguagem em complemento ao computador. Por isso que dentro deste projeto existe uma biblioteca com títulos nacionais, para leitura local onde o usuário pode ler um bom livro enquanto espera o seu horário para acessar a internet, ou para fazer o curso de inclusão digital.

Voltando ao Tele-centro em específico, é bom salientar que existem outros tipos de Tele-centros que não seguem as premissas levantadas neste artigo, como o uso do software livre, a formação continuada e autogestão. Não vamos esmiuçar aqui, como funcionam estas outras experiências, mas é bom lembrar que a ação de simplesmente disponibilizar alguns computadores para aceso a internet não quer dizer que signifique inclusão digital. A concepção para além dos Tele-centros, que pode significar Inclusão Digital deve acompanhar alguns requisitos que seriam: 1. Ter computador ou aceso gratuito, a algum dos três espaços privados ou públicos de aceso a rede: Land House, Tele-centro ou Cibercafé; 2. Saber manipular com eficiência razoável, as ferramentas da comunicação via internet em comunidades de sociabilização, meios de informação e de comunicação e sites educativos; 3. Ter acesso à internet com um mínimo de velocidade para efetuar um bom processamento de dados. Enfatizamos estes requisitos para dividir o que é inclusão digital é o que seria uma simples tentativa.

DADOS COM RELAÇÂO À INTERNET

O aceso ao computador ou a educação digital, por muitas vezes é parâmetro para identificar o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, das comunidades e dos países. Os dados divulgados pelo IBGE em relação à exclusão digital no Brasil são de importância para a promoção de inclusão digital. O governo tem dito que este tema é um dos mais importantes para a equidade social na promoção de políticas sociais voltadas as comunidades mais pobres com vistas a nivelar os índices de aceso a rede. De acordo com o Censo 2000, apenas 10,6% dos domicílios brasileiros têm computadores. Tudo indica que o Brasil tem 13,6 milhões de usuários de Internet, que significa 7,74% da população do país IBGE (2000), já no Censo de 2006, foi destacado que a cada cinco lares brasileiros, um tem computador. IBGE (2006).

Com estes números, podemos identificar uma, crescente, porém baixa possibilidade da população em geral ao uso do computador e um aumento no número de Tele Centros de inclusão digital significa proporcionar não só as comunidades mais carentes, mas a maioria da sociedade, o acesso a internet com finalidade de aceso a informação e exercício da cidadania.

A perspectiva de termos uma “alfabetização digital” Takahashi (2000) no Brasil, passa pela familiarização, formação e utilização das ferramentas da TIC’s e da utilização dos programas mais utilizados hoje em dia, como é o caso do MSN, ORKUT, salas de bate-papo, e-mail, e grupos de discussão, praticados em vários lugares, como escolas e cursos privados, mas principalmente nos Tele-centros de Inclusão digital mantidos pelo Estado. A “alfabetização digital” passa pela educação digital, que ainda não se encontra com potencialidade, nas escolas municipais e estaduais do nosso país e da nossa cidade. Por isso que os Tele-centros são importantes para a emancipação social e para a capacitação de cidadãos ativos.

PESSIMISTAS E OTIMISTAS DA CIBERCULTURA

No estudo daquilo que convencionamos chamar de Cibercultura, existem duas posições teóricas polarizadas, dividindo-se entre pessimistas e otimistas:

A Internet não é uma simples tecnologia de comunicação, mas o epicentro de muitas áreas da atividade social, econômica e política. Por este motivo, a Internet converte-se num grande instrumento de exclusão social, reforçando o hiato entre pobres e ricos, existente na maior parte do Mundo. Mas, por outro lado, a Internet, funciona como uma ágora global, onde as pessoas podem expressar e partilhar as suas preocupações e esperanças. Desta forma a Internet tem potencialidades ao poder implicar e responsabilizar os cidadãos informados e conscientes dos problemas existentes na sociedade, na construção de Estados mais democráticos, conduzindo a uma sociedade mais humana e menos votados à desigualdade e à exclusão social. CASTELLS (2004).

Segundo a citação acima se entende que a Cibercultura apresenta estas duas faces, que na opinião de CASTELLS (2004), não se contrapõem, mas se complementam. Logicamente que uma destas duas faces pode prevalecer dependendo de outros aspectos que compõe determinada sociedade, ou da ênfase que tais sociedades dão aos processos de interação com a internet. Por exemplo, no Brasil, a grande maioria da população não tem acesso ao computador, e por esta razão, políticas públicas que visem estimular a sociedade a se inserir no mundo digital através de Tele-centros gratuitos, além de serem um dever do estado, podem diminuir as distâncias entre ricos e pobres no país.

Se por um lado a internet pode se “converter num grande instrumento de exclusão social”, por outro lado ela pode “construir estados mais democráticos, conduzindo a uma sociedade mais humana e menos voltada a desigualdade social”. Para compreendermos o que significa falarmos em pessimistas e otimistas vamos acompanhar o que Pierre LÈVY pensa a respeito da Cibercultura, através de um texto de Francisco Rüdiger:

Em LÈVY, "a conexão é um bem em si" LÈVY (1999), veicula os valores da autonomia individual e da abertura para a alteridade. A cibercultura expressa antes de tudo, a vontade coletiva de construir laços sociais baseados na partilha de conhecimento. O fundamento é "a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração" LÈVY (1995). Para ele, a tendência comunitária e libertária é que comanda o crescimento do ciberespaço, e não há sentido em opor-lhe ao ou criticar-lhe por ser cada vez mais explorada comercialmente: os dois processos são complementares LÈVY (1999). RÜDIGER (2003).

Adentrando na particularidade de pessimistas e otimistas, outras denominações também podem ser utilizadas na compreensão do tema. Conforme se costuma afirmar, os pensadores da técnica podem ser divididos em Prometéicos e Fáusticos, para fazer uma analogia a duas figuras exemplares da tradição mitológico-literária. Analisando a característica dos Prometéicos, acredita-se na faculdade emancipatória e beneficente da técnica moderna, sendo a tecnologia um fator de progresso da humanidade, constituindo-se estes nos otimistas. E por outro lado, as transformações generalizadas promovidas pelo fenômeno da técnica passaram a ser encaradas como agressões à vida humana ameaçando o direito a individualidade, num entendimento que esta dinâmica é negativa, escapando ao controle da coletividade, sendo estes os Pessimistas. RÜDIGER (2002).

O que estamos acompanhando com as comunidades mundiais conectadas pela rede, os computadores interligados, pode favorecer o surgimento da inteligência coletiva LÈVY (1998), e é o que acontece com muitas das comunidades de produção de software livre, para dar um exemplo bem contemporâneo. Se a internet proporcionou o aquecimento da economia mundial diminuindo distâncias nas transações internacionais de caráter mercadológico, a sua contradição apresenta um refluxo inversamente ao contrário do que pretendiam as empresas que achavam que a internet serviria apenas para a multiplicação de seus dividendos.

Para Pierre LÈVY, a tecnologia está a exigir uma filosofia prática, ao invés de crítica. O autor sugere que se deixe de lado o idealista para aprender o real que está nascendo torná-lo autoconsciente, acumulável e guiar seu movimento de forma que venham a tornar suas potencialidades mais positivas LÈVY (1995). RÜDIGER (2002). Em vários dos seus escritos, LÈVY afirma que a técnica não é em si mesma boa ou ruim, salientando que esta qualidade é muito dependente do seu uso e do seu contexto. LÈVY (1999). RÜDIGER (2002).

CONCLUSÃO

Mesmo que muitas pessoas acreditem que Inclusão Digital não significa inclusão social, o que se constata neste artigo através dos dados numéricos e das opiniões teóricas, é que não podemos, na era digital, pensar inclusão social sem inclusão digital.

Para NERI (2003) “A Inclusão Digital representa um canal privilegiado para equalização de oportunidades da nossa desigual sociedade em plena era do conhecimento.” Constrói-se aí a demanda para efetuar inclusão digital: dar oportunidades equânimes para todos e todas. Não é privilégio e sim oportunidade que precisam as pessoas menos favorecidas e obtêm com o aceso a internet, não deixando de lado outros fatores, mas elegendo uma das prioridades como sendo a Inclusão Digital como resposta a Exclusão Social.

Tão importante quanto à opinião dos estudiosos do ramo é a opinião de quem freqüenta o Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas. Na sua maioria, 75% no aceso a internet e 63% no curso técnico, responderam que Inclusão Digital é Inclusão Social.

Sustentado nas respostas dos alunos e alunas do curso técnico e nas dos usuários e usuárias do aceso a internet do projeto, podemos identificar o sucesso do trabalho feito até agora pelas pessoas que fazem acontecer, dentre elas, monitores, coordenadores, estagiários e conselheiros, que juntamente com o governo federal aplicam uma política enfática no sentido de organizar o povo para a apropriação dos conhecimentos da internet, construindo um mundo que seja mais justo, solidário, fraterno e com igualdade de oportunidades.

O projeto Tele-centro de Inclusão digital Petrobrás/RITS da ATES de Pelotas, cumpre papel fundamental dentro da perspectiva que o projeto se orienta. O conceito de Tele-centro de Inclusão Digital se desdobra no conceito contemporâneo de Inclusão Social, atento as novas tecnologias, atuando na busca do aceso a informação diferenciada, da comunicação de forma global sem custos e da formação técnica de qualidade.

“A inclusão digital, torna-se parceira da cidadania e da inclusão social” YOUNG (2006) à medida que existe uma política positiva por parte do Estado, expressado neste caso pelo governo federal, com vistas a diminuir as diferenças sociais através da inclusão digital. Num país que existem enormes desigualdades sociais, tem caráter de enfrentamento a atual política de Inclusão Digital, seja contra os detentores do poder no nosso país, na construção de orientação autogestionária na dinâmica do Conselho Gestor do Tele-centro, seja na utilização do software livre, combatendo um dos maiores monopólios da informática que é a Microsoft.

Com estas constatações, os governos estaduais e municipais, precisam se espelhar nestas ações que vem dando certo e precisam implementar os seus Tele-centros com software livre, formação continuada e autogestão.

Talvez a internet tenha sido o maior invento depois da escrita, que é sinônimo de instrução e é considerado um direito cidadão. Logo se não nos dermos conta, que assim como a falta da alfabetização gera Exclusão Social, a falta de aceso a internet, igualmente, também gera Exclusão Social, vamos deixar de dar um passo importante, que pode representar um salto de qualidade na vida da população brasileira.

Bilbliografia (Referências e Sites consultados)

REFERÊNCIAS

AMADEU, Sergio da Silveira. Inclusão digital, software livre e globalização contra-hegemônica. Disponível em: <http://www.meulugar.org.br/> Acesso em: 2007

CASTELLS, Manuel. A Galáxia Internet: Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.

LEMOS, André; CUNHA, Paulo. Olhares sobre a Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003.

LEMOS, André, PALACIOS, Marcos. Janelas do Ciberespaço: Comunicação e Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2001.

LESSIG, Lawrence. Cultura Livre: Como a Grande Mídia Usa a Tecnologia e a Lei Para Bloquear a Cultura e Controlar a Criatividade. São Paulo: Trama, 2005.

LÈVY, Pierre. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

__________. Ciberdemocracia. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.

MELO, Chico Homem. Os desafios do Designer: Rosari, 2003.

NERI, Marcelo Côrtes. Mapa da Exclusão Digital. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, CPS, 2003.

REQUIÃO, Roberto. Revista Caros Amigos, fevereiro de 2007.

RÜDIGER, Francisco. Introdução às Teorias da Cibercultura. Porto Alegre: Sulina, 2003.

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YOUNG, Ricardo. Inclusão digital. Disponível em <www.ibict.br/revistainclusaosocial/include

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SITES CONSULTADOS

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www.cibersociedad.net>

AMADEU, Sergio. Vídeo explicativo do Software livre. Disponível em: Aceso em 2007.

Dados do Censo de 2000 e de 2007. Disponíveis em: ibge.gov.br> Acesso em: 2007.

LESSIG, Lawrence. Cultura Livre: 2005. Disponível em: Aceso em: 2006.

Gráfico 1

Gráfico 2

Gráfico 3

Gráfico 4

Gráfico 5

Gráfico 6

Gráfico 7

Gráfico 8

Gráfico 9

Gráfico 10