No estudo daquilo que convencionamos chamar de Cibercultura, existem duas posições teóricas polarizadas, dividindo-se entre pessimistas e otimistas:
A Internet não é uma simples tecnologia de comunicação, mas o epicentro de muitas áreas da atividade social, econômica e política. Por este motivo, a Internet converte-se num grande instrumento de exclusão social, reforçando o hiato entre pobres e ricos, existente na maior parte do Mundo. Mas, por outro lado, a Internet, funciona como uma ágora global, onde as pessoas podem expressar e partilhar as suas preocupações e esperanças. Desta forma a Internet tem potencialidades ao poder implicar e responsabilizar os cidadãos informados e conscientes dos problemas existentes na sociedade, na construção de Estados mais democráticos, conduzindo a uma sociedade mais humana e menos votados à desigualdade e à exclusão social. CASTELLS (2004).
Segundo a citação acima se entende que a Cibercultura apresenta estas duas faces, que na opinião de CASTELLS (2004), não se contrapõem, mas se complementam. Logicamente que uma destas duas faces pode prevalecer dependendo de outros aspectos que compõe determinada sociedade, ou da ênfase que tais sociedades dão aos processos de interação com a internet. Por exemplo, no Brasil, a grande maioria da população não tem acesso ao computador, e por esta razão, políticas públicas que visem estimular a sociedade a se inserir no mundo digital através de Tele-centros gratuitos, além de serem um dever do estado, podem diminuir as distâncias entre ricos e pobres no país.
Se por um lado a internet pode se “converter num grande instrumento de exclusão social”, por outro lado ela pode “construir estados mais democráticos, conduzindo a uma sociedade mais humana e menos voltada a desigualdade social”. Para compreendermos o que significa falarmos em pessimistas e otimistas vamos acompanhar o que Pierre LÈVY pensa a respeito da Cibercultura, através de um texto de Francisco Rüdiger:
Em LÈVY, "a conexão é um bem em si" LÈVY (1999), veicula os valores da autonomia individual e da abertura para a alteridade. A cibercultura expressa antes de tudo, a vontade coletiva de construir laços sociais baseados na partilha de conhecimento. O fundamento é "a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração" LÈVY (1995). Para ele, a tendência comunitária e libertária é que comanda o crescimento do ciberespaço, e não há sentido em opor-lhe ao ou criticar-lhe por ser cada vez mais explorada comercialmente: os dois processos são complementares LÈVY (1999). RÜDIGER (2003).
Adentrando na particularidade de pessimistas e otimistas, outras denominações também podem ser utilizadas na compreensão do tema. Conforme se costuma afirmar, os pensadores da técnica podem ser divididos em Prometéicos e Fáusticos, para fazer uma analogia a duas figuras exemplares da tradição mitológico-literária. Analisando a característica dos Prometéicos, acredita-se na faculdade emancipatória e beneficente da técnica moderna, sendo a tecnologia um fator de progresso da humanidade, constituindo-se estes nos otimistas. E por outro lado, as transformações generalizadas promovidas pelo fenômeno da técnica passaram a ser encaradas como agressões à vida humana ameaçando o direito a individualidade, num entendimento que esta dinâmica é negativa, escapando ao controle da coletividade, sendo estes os Pessimistas. RÜDIGER (2002).
O que estamos acompanhando com as comunidades mundiais conectadas pela rede, os computadores interligados, pode favorecer o surgimento da inteligência coletiva LÈVY (1998), e é o que acontece com muitas das comunidades de produção de software livre, para dar um exemplo bem contemporâneo. Se a internet proporcionou o aquecimento da economia mundial diminuindo distâncias nas transações internacionais de caráter mercadológico, a sua contradição apresenta um refluxo inversamente ao contrário do que pretendiam as empresas que achavam que a internet serviria apenas para a multiplicação de seus dividendos.
Para Pierre LÈVY, a tecnologia está a exigir uma filosofia prática, ao invés de crítica. O autor sugere que se deixe de lado o idealista para aprender o real que está nascendo torná-lo autoconsciente, acumulável e guiar seu movimento de forma que venham a tornar suas potencialidades mais positivas LÈVY (1995). RÜDIGER (2002). Em vários dos seus escritos, LÈVY afirma que a técnica não é em si mesma boa ou ruim, salientando que esta qualidade é muito dependente do seu uso e do seu contexto. LÈVY (1999). RÜDIGER (2002).
Nenhum comentário:
Postar um comentário